Tem-se assistido ultimamente a uma acentuada mudança do sentimento depressivo que nos tem acompanhado nos últimos anos. De facto alguns indicadores, indesmentíveis, vêm reforçando esse sentimento tais como, o continuado crescimento das exportações, assentando muito na penetração em novos mercados e no alargamento do leque de produtos a diminuição, embora ténue, do desemprego, a diminuição do número de insolvências, a criação de novas empresas, etc.
Também o consumo interno tem crescido como demonstram indicadores como o aumento, em cerca de 40% do nº de automóveis novos vendidos, a lotação dos destinos de férias de Páscoa tradicionais, bem como a lotação de voos para férias nesta época do ano, e muitos mais, quando na realidade a esmagadora maioria das famílias não sentiu nenhum aumento do respetivo poder de compra.
Naturalmente que este sentimento de otimismo é preferível ao sentimento depressivo mas, em todo o caso, encerra perigos que é preciso acautelar.
Um problema que parece continuar a não ser tratado com a devida profundidade é o da produtividade. Na realidade, este tem sido desde sempre a grande questão que não está convenientemente percebida. Uma simples análise a estatísticas independentes apresentam resultados extremamente preocupantes.
O gráfico seguinte, realizado pela PORDATA e tendo por base inúmeras estatísticas europeias, compara o indicador PPS (Produtividade Laboral por Hora) de Portugal com os nossos parceiros do euro (17 países) e com os países da EU (27 países) tendo por base estes e considerando que o respetivo valor é de 100, reta horizontal.
Os resultados da análise do gráfico podem-se sintetizar no seguinte:
A conclusão a retirar de tudo isto é que o modelo económico seguido até aqui falhou redondamente. Na realidade apesar do desmesurado esforço público de investimento em obra e das empresas em aquisições de equipamentos e sistemas, a nossa produtividade global não melhorou.
A adicionar aos factos anteriores temos que salientar a mudança da envolvente à economia traduzida no alargamento da EU a este e na globalização. Estes acontecimentos implicaram a mudança de paradigma da economia para o primado do cliente traduzindo-se na prática no facto de as empresas, e as organizações em geral, terem perdido a capacidade de fixar os seus preços de venda sendo estes fixados pelo mercado;
Vende-se ao preço que se pode e não ao preço que se quer
É agora mais fácil de perceber porque é que, apesar das empresas terem muito trabalho, na realidade não sentem o respetivo resultado, ou seja, não ganham dinheiro.
É precisamente aqui que o Lean Management, como filosofia de Gestão, se insere para ajudar a resolver o problema.
Muito sucintamente, o que o Lean Management (Gestão Magra) nos diz, é que a esmagadora maioria (+ de 95%) das nossas atividades (trabalho) não acrescentam
Valor, logo são desperdícios. É precisamente aqui que temos de posicionar as questões da produtividade. Na realidade o Lean que originariamente nasceu na indústria, é hoje transversalmente utilizado em todas as áreas de atividade como a saúde, a construção, os serviços públicos e privados, a educação a logística a banca, etc. com enorme sucesso.
As empresas têm hoje a possibilidade, se interiorizarem os respetivos conceitos, de darem saltos enormes na sua eficiência traduzidos na melhoria da qualidade dos seus produtos e serviços e na redução dos respetivos custos o que, numa economia global, é absolutamente crítico para a sustentabilidade futura.
Eduardo Campos Ferreira
XZ Consultores SA