Compliance, transparência e ética dos negócios: um novo paradigma da gestão?

O compliance, a transparência e a ética nos negócios constituem, não um novo paradigma da gestão, mas sim uma exigência crescente da sociedade, com efeitos já significativos nas motivações de aquisição por parte dos clientes e mercados, assim como novos requisitos contratuais, quer no domínio publico quer no privado, e um fator diferenciador num mercado cada vez mais competitivo e no qual as determinantes indutoras de alguma diferenciação são cada vez mais raras e de exigente concretização.

Se questões como a escravatura, o trabalho infantil, dos salários em atraso, no não pagamento dos compromissos assumidos com o Estado, …, foram marcantes em séculos passados, hoje, os desafios impostos são nos domínios da ética, da transparência, da deontologia no exercício das funções e no compliance das Organizações.

Os riscos associados á lavagem de dinheiro, ao financiamento do terrorismo, á utilização de informação privilegiada, ao conflito de interesses, ás portas giratórias entre o publico e o privado, á fuga aos impostos, á imoral utilização dos paraísos fiscais, …, são crescentes e com um impacto imprevisível na notoriedade e reputação das organizações.

Em termos de ética nos negócios, há novas questões que devem ser discutidas publicamente, por forma a equacionar urgentes respostas, tais como a abusiva utilização de algumas tecnologias, a inqualificável utilização de alguns algoritmos que agravam as desigualdades, a crescente dificuldade na utilização de algumas das novas tecnologias por crescentes franjas da população, o agravamento dos desequilíbrios entre quem tem, e quem não tem, acesso a instrumentos fundamentais para sairmos da espiral da pobreza, …

É neste quadro que as Organizações, independentemente das suas características, devem, não apenas reforçar uma cultura de compliance e de ética, com base num quadro de valores intenso, partilhado e compreendido por todas as Partes Interessadas, mas também enquadrar a gestão do complaince, da ética e da transparência nas suas estratégias, nas suas políticas, nos seus objetivos, nos seus códigos, nos seus instrumentos de gestão, por exemplo, do risco, assegurando a periódica realização de auditorias e a eficaz gestão dos seus resultados.

O Índice de Perceção da Corrupção (CPI) é a mais antiga e abrangente ferramenta de medição da corrupção no mundo, analisando os níveis de corrupção no setor público de 180 países e territórios, pontuando-os de 0 (percecionado como muito corrupto) a 100 (muito transparente).

Portugal subiu um lugar no Índice de Perceção da Corrupção de 2021, publicado pela Transparency International, e ocupa agora a 32.ª classificação. Com 62 pontos, voltando a igualar a posição registada em 2019 e continuando abaixo dos valores médios da União Europeia (64 pontos) e da Europa Ocidental e da União Europeia (66 pontos).

A ISO colocou á disposição da sociedade um importante instrumento de gestão: a norma NP ISO 37001:2018.

Conhece-la e praticá-la é uma opção de gestão tomada por um crescente número de Organizações que se revêm neste importante desafio: tornar a sociedade mais humana, mais justa, menos desigual, mais socialmente responsável, mais ética e mais transparente.

Júlio Faceira Guedes

XZ Consultores, SA

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