Empreender, inovando

Diariamente somos confrontados com informações que comprovam o crescente movimento do empreendedorismo em Portugal, não só face ao elevadíssimo, e por vezes incompreensível quantidade de atividades promotoras do empreendedorismo, tais como concursos de ideias, mas também pelos excelentes resultados que alguns empreendedores, particularmente de base tecnológica, têm obtido junto de financiadores, em particular nos Estados Unidos.

Assumindo, tal como Robert Hirsh (2007) o referiu que o empreendedorismo é um processo de criação de valor, exigindo, não só tempo e esforço, mas também riscos, entre os quais, financeiros e sociais, para alcançar a satisfação e a realização económica e pessoal, ou como a Comissão Europeia (2003) o reconhece, “uma atitude mental para o processo de criação e desenvolvimento de atividades económicas, combinando o risco, criatividade com uma gestão exigente, em torno de algo novo ou já existente”, o empreendedor, sendo-o por necessidade ou por oportunidade, todos os estudos são unanimes em reconhecer que os empreendedores de sucesso têm um conjunto de características fundamentais, entre as quais se destacam proatividade, orientação para a realização, autoconfiança, persistência, persuasão, uso de estratégias de influencias, procura de informação, …

Muito se tem discutido sobre a natureza de alguns investimentos, frequentemente classificados de empreendedorismo. A diferença entre o investidor/promotor, que decide investir num pequeno café numa área já com uma oferta superior à procura  e aquele que decide investir, nos próximos cinco anos, no desenvolvimento de uma nova molécula que, a ter sucesso será incorporada num novo champô, é naturalmente significativa.

Neste contexto, é interessante analisar a matriz de empreendedor desenvolvia por um dos autores que melhor estudou as questões relacionadas com o empreendedorismo (Timmons (1989)).

Empreender, inovando

Para este o empreendedor é o que evidencia, não só uma elevada capacidade criativa e inovadora, mas também uma elevada capacidade de gestão do seu negócio.

Os diferentes estudos sobre esta problemática, entre os quais os realizados pelo Global Entrepreneurship Monitor, que tem como objetivo analisar a relação entre o nível de empreendedorismo e o nível de crescimento econômico, assim como refletir sobre as condições que estimulam e travam as dinâmicas empreendedoras em cada país participante no estudo em questão, permitiu concluir, no ultimo estudo, que em Portugal, existem 4 a 5 empreendedores early-stage (indivíduos envolvidos em start-ups ou na gestão de novos negócios) por cada 100 indivíduos em idade adulta, confirmando também que Portugal tem uma dos mais baixos TEA (Total Early-Stage Entrepreneurship Activity), indicador que mede a proporção de indivíduos adultos (com idades compreendidas entre os 18 e os 64 anos) envolvidos quer num negócio em fase nascente.

É inegável que Portugal tem realizado um esforço significativo, não só para promover o empreendedorismo, mas também para minimizar a taxa de mortalidade dos organizações criadas pelos empreendedores e dessa forma assegurar que as mesmas contribuem com riqueza para o país, em particular consequência da sua intervenção no mercado internacional.

As Políticas, e os Programas Governamentais, os apoios financeiros disponibilizados, as diferentes ações desenvolvidas pelas entidades do sistema educativo e da qualificação profissional, os incentivos á transferência de tecnologia das universidades para as empresas, a minimização de algumas barreiras colocadas nos primeiros anos de vida das startups, a criação de múltiplas e diversificadas infraestruturas, particularmente centros de incubação, aceleradoras, …, têm constituído instrumentos de promoção e estimulo ao empreendedorismo.

Contudo é importante que os resultados de todos estes programas, incentivos, apoios, independentemente da sua natureza, …, sejam avaliados, para que a sociedade tenha confiança na qualidade dos programas e no seu contributo para o reforço do empreendedorismo, sendo, unanimemente, reconhecida a sua importância para valorizar o investimento que a sociedade faz na ciência, aumentar a competitividade dos produtos nacionais no mercado global, reduzir o desemprego e criar riqueza.

Neste contexto, é prioritário empreender, mas inovando.

Júlio Faceira Guedes, Administrador da
XZ Consultores, SA

<< Voltar