As práticas Lean e a redução dos impactos ambientais

 

Autor: Lando Tetsuro Nishida – Lean Institute – Brasil

Adaptado por: Eduardo Ferreira – XZ Consultores

 

Como o ambiente está, e bem, cada vez mais na ordem do dia, veja-se a recente conferência mundial de Glasgow, COP 26 Climate Summit, resolvi repescar um artigo publicado há mais de 10 anos e que, cruza as boas práticas Lean com a sustentabilidade ambiental.

Como é sabido, o foco tradicional da filosofia Lean é a sistemática eliminação dos desperdícios, ou seja, de tudo aquilo que não acrescenta valor quer ao produto quer às atividades de suporte dos processos produtivos. Uma pesquisa realizada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, Enviromental Protection Agency), conclui que da aplicação destes princípios, e das suas metodologias de implementação, resultaram também melhorias em diversos indicadores ambientais tais como a percentagem de geração de resíduos, o consumo de energia, etc.

 

Desperdícios que tem impacto no meio ambiente

Muitas questões ambientais como a poluição tóxica, emissões de gases para a atmosfera, contaminação de fontes de água não são frequentemente identificadas como desperdícios de produção mas, como se verá pela tabela seguinte, existe uma estreita correlação entre estes desperdícios e os processos produtivos.

Na tabela seguinte a 1ª coluna apresenta os 7 desperdícios básicos identificados por Taichi Ohno. Na 2ª coluna exemplificam-se alguns desses desperdícios, para melhor compreensão e na 3ª coluna demonstra-se o impacto que a eliminação desses desperdícios poderá ter no ambiente.

 

Tipos de desperdício

Exemplos

Impacto ambiental

Reprocessamento (correção de problemas de qualidade)

Defeitos, Refugos, Produção para Reposição, Inspeções, Sucatas, etc.

- Matéria-prima e recursos energéticos consumidos na fabricação de produtos defeituosos

- Componentes defeituosos requerem que sejam eliminados ou reciclados

- Utilização de espaço fabril para as operações de reprocessamento, aumentando assim o consumo energético por via da iluminação, aquecimento e arrefecimento

Esperas

Rotura de stocks de materiais. Atrasos no processamento dos lotes de produção, Paragens dos equipamentos, Estrangulamentos dos processos produtivos

- Desperdícios de energia devido a aquecimento/ arrefecimento/ iluminação durante a paragem dos equipamentos

- Potencial deterioração de materiais ou danos em componentes

Produção Excessiva

Fabricação de produtos sem serem necessários

- Maior quantidade de matérias-primas consumidas em produtos sem reflexo nas vendas

- Produtos em stock podem-se deteriorar ou tornarem-se obsoletos tendo que ser eliminados

Deslocações

Movimentação de pessoas e materiais muitas das vezes transportando stocks

- Maior dispêndio de energia para os transportes

- Emissões de gases por via desses transportes

- Necessidade de mais espaço para a movimentação dos stocks dos processos, aumentando o consumo de energia por via da iluminação/ aquecimento/ arrefecimento

- Maior quantidade de embalagens para proteger os componentes durante o transporte

Excesso de Stocks

Excesso de matéria-prima, Stocks intermédios, Stocks de produto acabado

- Maior quantidade de embalagens necessárias para armazenamento de stocks de produto semi-acabado

- Deterioração de produto semi-acabado ou danos na sua stockagem

- Maior quantidade de materiais para a substituição dos produtos danificados

- Maior consumo de energia por via da iluminação/ aquecimento/ arrefecimento da área de stockagem

Sobreprocessamento

Excesso de fases no processamento, ou que exigem tempo para além do necessário para satisfazer a necessidades do cliente

- Maior quantidade de matéria-prima consumida por unidade de produto

- O processamento desnecessário aumenta os desperdícios, uso de energia e emissões de gases

Potencial das pessoas não utilizado

Perdas de tempo, de ideias, de conhecimentos, melhorias e sugestões dos funcionários, contribuição para a “obediência maliciosa”

- Poucas oportunidades para sugestões de diminuição de desperdícios e de melhorias.

Fonte: EPA, Lean Manufacturing and the Environment – pag. 28

 

Como os conceitos Lean tem impacto positivo no meio ambiente

Da análise do quadro anterior pode-se concluir que existe uma forte relação, de causa-efeito, entre a eliminação de desperdícios relativos à produção de bens e as oportunidades de redução dos impactos ambientais.

Com o aumento do controlo sobre os processos, que implica uma melhoria da qualidade dos produtos com a consequente redução do índice de refugos e defeitos, decorrentes da implementação Lean, simultaneamente eliminam-se as emissões de gases devido aos reprocessamentos. Analogamente, com a diminuição de stocks e a mudança de layout para produção celular, reduzem-se os espaços físicos necessários, logo a quantidade de água, materiais e energia utilizados para o aquecimento/ arrefecimento/ iluminação e manutenção dos locais de trabalho, que se tornam menores.

Para sustentar estas melhorias, o trabalho padronizado estabelece os procedimentos para os correctos desempenhos das actividades de trabalho e a gestão visual reforça estas práticas. Os eventos Kaizen envolvem os funcionários da produção, identificando e eliminando desperdícios e promovendo a melhoria contínua.

 

Referência

Environmental Protection Agency, Lean Manufacturing and the Environment: Research on Advanced Manufacturing Systems and the Environment and Recommendations for Levering Better Environmental Performance, October 2003.

http://www.epa.gov/lean/leanreport.pdf

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