É inegável que a generalidade dos gestores portugueses, pelo menos nos seus discursos, reconhece que há uma relação causa-efeito e cada vez mais marcante e profunda entre a capacidade inovadora das suas organizações e a sustentabilidade dos seus negócios.
Contudo, também se admite, face aos múltiplos exemplos com os quais somos confrontados, que nem sempre os pilares que caracterizam a cultura e os valores das organizações, os recursos financeiros afetos às atividades de inovação, o comportamento dos gestores perante os erros e a experimentação, a abertura, a comunicação, a partilha, a aprendizagem, …, são coerentes e alinhados com os discursos.
Quantas empresas nacionais têm um orçamento orientado para as atividades de inovação? Quantas admitiram para os seus quadros profissionais doutorados?
Quantas estimulam o intraempreendedorismo com ações concretas, sistemáticas e orientadas para resultados? Quantas promovem a comunicação dos seus profissionais com outros players do mercado, nacional e internacional, mesmo que concorrentes e não apenas clientes? Quantas gerem o conhecimento como um património intangível de uma forma planeada e focalizada na sua valorização? Quantas assumem o capital intelectual como um fator diferenciador e critico?
Há sinais que podem ser preocupantes: o número de patentes registadas por empresas no nosso país não evolui significativamente, a intensidade tecnológica dos produtos exportados não aumenta de uma forma robusta, a balança de transações tecnológica não acompanha o reforço das exportações nacionais, o número de investigadores integrados nas empresas está longe da média europeia, o investimento real na inovação, excluindo o decorrente dos projetos cofinanciados, não evidencia um crescimento sustentado, as empresas que interagem proactivamente com o mundo cientifico e tecnológico é insuficiente e não evidencia maturidade e orientação para resultados que inspirem confiança numa eficaz, e imprescindível, transferência de conhecimento e tecnologia, …
Contudo não pode ser desprezada a excelência de alguns Centros de Incubação nacionais, considerados dos melhores no contexto global, de algumas das entidades que têm como missão gerir a interface entre as universidades e o mundo empresarial, a qualidade dos resultados que algumas universidades já estão a obter consequência do reforço que têm desenvolvido para promover o empreendedorismo dos seus alunos, o imprevisível, mas merecido posicionamento de algumas das melhores escolas de gestão portuguesas, … e como consequência temos mais jovens empreendedores, mais empresas incubadas, mais empresas que saltam com sucesso as fronteiras do território nacional, mais doutorados a assumirem os riscos empresariais, mais jovens empresas nacionais com delegações espalhadas pelo mundo, …
É verdade que o impacto destas organizações no mercado de trabalho e no contributo para a produção de riqueza ainda é débil, mas temos infraestruturas, temos, cada vez mais, jovens com vontade de assumirem riscos, investigadores que abandonam o conforto dos laboratórios, empreendedores poliglotas, cidadãos do mundo e implicados no sucesso tecnológico nacional.
E as empresas já estabelecidas no mercado, com uma história, com mercado, com conhecimento, …? Pode perguntar-se se os gestores destas, num quadro de inegável insuficiência dos capitais próprios, de uma indisfarçável degradação da rentabilidade dos negócios e debilidade das tesourarias, não têm optado por opções de investimento em atividades que possam potenciar resultados imediatos, ou por opções que minimizem os riscos ou que protejam os capitais.
Obviamente que o contexto socioeconómico nacional é desfavorável ao reforço da inovação e algumas decisões políticas constituem brutais inibidores e obstáculos à inovação. As alterações sistemáticas dos incentivos fiscais que podem favorecer e estimular o investimento em I&D, a orientação de alguns Centros de Investigação, alguns dos quais muito bem qualificados pelas entidades avaliadoras, para a produção de conhecimento desprezando a sua valorização pelas empresas, as dificuldades dos governos para impedirem a utilização abusiva de algumas patentes, o descontinuo apoio financeiro às empresas que investem na I&D, …
Não podemos também negar que a insuficiente capacidade de alguns gestores assumirem o risco, presente em qualquer projeto de I&D, a desfocada visão do negócio evidenciada por alguns e a descontextualizada política de gestão dos recursos humanos que desvaloriza o capital humanos e o conhecimento tácito, contribuem também para o reconhecimento de que há um longo caminho a percorrer em matéria de inovação.
O motor da inovação está a carburar de uma forma sistemática, estamos na direção certa, mas temos de aumentar rapidamente a intensidade, a penetração e a velocidade, motivando e envolvendo mais empresas, puxadas por um mercado exigente e sustentadas por uma geração que é a mais bem qualificada desde há muitos séculos, sendo contudo relevante:
Júlio Faceira Guedes
XZ Consultores, SA