Observatório de Recursos Humanos:
Que a conciliação é um fator chave no momento de atrair talento, é uma questão que não se pode colocar em dúvida.
As incertezas podem surgir se damos um passo mais e nos questionamos “quanto pesa?”, “quanto influencia a conciliação tendo em conta a compensação total?”
Ou, dito de outra forma, como valorizamos a conciliação em função do nosso salário? Quanto do nosso salário estaríamos dispostos a trocar por conciliação?
A totalidade dos estudos que pudemos analisar colocam a conciliação como um fator determinante no momento de escolher uma profissão. Um dos estudos mais completos foi realizado por Towers Perrin (agora Towers Watson (1)) e concluía no seguimento de mais de 80 000 inquéritos realizados em 16 países que a conciliação é o segundo fator tido em consideração no momento de atrair talento e que este fator estava atrás apenas do desafio que a profissão proporciona e constitui o terceiro fator para a retenção. Neste mesmo estudo, também chamam a atenção para uma exceção – a Espanha. Neste país a conciliação aparece como o primeiro fator de escolha da profissão. Podemos pensar que a crise que atravessamos, e que é especialmente violenta no nosso país, teria mudado em parte este resultado, mas a opinião é que, sem dúvida, continua a ser um dos principais fatores na atração de talento, em paralelo com a remuneração e o desenvolvimento profissional.
Permanecendo um pouco mais nesta ideia, cabe perguntar-se se a conciliação atrai igualmente todo o tipo de talento, sem discriminar por sexo, nacionalidade, nível socioeconómico e cultural ou geração a que pertence.
A este respeito, não temos a informação que gostaríamos para tirar conclusões sólidas. Devemos basear-nos na informação de algumas empresas que realizaram estudos ou da própria informação que temos na Fundación Másfamilia mas que neste momento não tem todo o rigor estatístico, permitindo apenas avançar com algumas conclusões que, por serem óbvias não colocam questões: a conciliação atrai mais aquele talento que mais precisa.
E a que pessoas nos referimos então?
1. Mais mulheres do que homens e mais aquelas com responsabilidades familiares;
2. Geração Y (nascidos depois de 1980), à frente dos “babyboomers” e das pessoas “mais velhas”;
3. Pessoas com necessidades especiais, como pessoas com deficiências e incapacidades, dependentes, cuidadores de pessoas dependentes, …
Podemos estar a falar, só no nosso país, de um grupo de mais de 10 milhões de pessoas, as quais poderíamos qualificar de “especialmente sensíveis e os que mais necessitam da conciliação”.
Uma referência especial é necessária para a “Geração Y”, pois talvez não seja tão claro para os leitores. Segundo dados da Infojobs.net, no ano de 2010, mais de 50% das pessoas que procuravam emprego tinham menos de 30 anos, o que pressupõe cerca de 1,5 milhões de pessoas.
A experiência demonstra que esta geração incorpora a conciliação em série, como se já estivesse no seu ADN. Tem muito mais presente que as gerações anteriores de que é importante ter uma vida plena e desenvolver todas as dimensões possíveis e não só a profissional.
O cruzamento entre a conciliação e a atração de talento requer uma maior análise e profundidade do que este artigo permite. Deveríamos passar de um plano qualitativo a um plano quantitativo, determinar as relações causa-efeito, efeitos paralelos, uma análise multi-variáveis, … Muito trabalho, sem dúvida.
Para tal, no ano de 2009 celebramos um compromisso com o líder no nosso país dos designados “Portais de Emprego”, Infojobs.net. Com eles desenhamos uma aliança a longo prazo que nos permite estabelecer as pautas de comportamento e compreender as relações entre a conciliação e a atração de talento.
Fruto desta colaboração, as empresas contam com a certificação efr (2) , contam com um site específico no portal Infojobs.net, o Canal Concilia, no qual publicar as suas ofertas de emprego e difundir a sua cultura e as suas medidas de conciliação (http://www.infojobs.net/ofertas-trabajo/concilia).
Fruto desta colaboração, temos já alguns resultados que permitem determinar a direção do trabalho e programação de uma agenda conjunta.
A principal conclusão a que chegaram as primeiras investigações realizadas é: “ Uma posição qualquer, desenhada e criada com critérios de conciliação recebem cerca de 40% mais de currículos do que se essa posição tivesse sido publicada sem critérios”.
Algumas outras conclusões interessantes:
O principal argumento de trabalho futuro com Infojobs.net é que “devemos ser capazes de alinhar e ajustar a solicitação e a oferta em matéria de conciliação.
Sabemos que é um aspeto solicitado na procura de emprego, mas também vemos que a oferta não está suficientemente desenvolvida e comunicada neste âmbito.”
Por Roberto Martínez, Diretor da Fundación Másfamilia
Fundacion Másfamilia,
Novembro de 2013
(1) Ten Steps to creating an engaged workforce. Towers Perrin Global Workforce Study Europe. 2008
(2) www.certificadoefr.org de Fundación Másfamilia