As informações divulgadas recentemente pelo INE são efetivamente encorajadoras: o desemprego está a diminuir, consequência de uma maior criação de emprego, provavelmente influenciada pelo excelente comportamento do sector turístico, as exportações evidenciam um significativo crescimento, sendo inegável o contributo das vendas no mercado externo da Galp, o défice a decrescer, … Ou seja, parece que estamos perante os primeiros sinais de recuperação, depois de uma longa, angustiante e tormentosa passagem por um deserto de retração e sofrimento.
Contudo, e tal parece uma contradição, a economia portuguesa continuará a decrescer, estima-se que 2% até ao final do ano, e se reconhecermos que a criação sustentada de emprego, de acordo com a generalidade dos economistas, só acontecerá quando tivermos um crescimento superior a 3%, reconhecemos que ainda estamos muito longe do tão desejado crescimento económico.
E esta é a grande questão: como colocar a economia nacional a crescer, entalada entre os países cujo custo do trabalho, que aumentou no segundo trimestre de 2013 (0,3% no segundo trimestre), é mais baixo do que em Portugal e custos do contexto também são mais atrativos, e os países mais convidativos ao investimento das grandes empresas tecnológicas.
A dimensão do nosso país, os níveis de consumo, a informalidade da nossa economia, a instabilidade do sistema fiscal, a dramática perda de alguns cérebros, o elevadíssimo custo da emigração da mão-de-obra qualificada, a publica condenação dos fracassos empresariais, o inqualificável e inadmissível funcionamento da justiça nacional, …, são fatores que não estimulam, não atraem e não potenciam qualquer investimento, mesmo o nacional.
É óbvio que o investimento depende fortemente da vontade e da decisão dos investidores e dos empreendedores. Mas, por muito atrativa que seja a oportunidade, por muito bons que sejam os resultados visíveis nos planos de negócio, ninguém investe num país que despreza quem empreende, que condena quem detém capital, que diaboliza quem obtém lucros nas duas empresas, que penaliza quem decide emagrecer a estrutura organizacional, que comemora quando um tribunal impede o despedimento por justa causa de um trabalhador que, no exercício da sua função, apresenta inegáveis sinais de embriagues que afetam a sua segurança, a segurança dos seus colegas de trabalho, a produtividade da empresa, ….
Efetivamente alguns dos nossos políticos, dos nossos comentadores, dos nossos “opinion makers” devem ter uma conduta mais ética, mais franca, mais isenta, não se devendo comportar como “incendiários”, como provocadores. As suas análises inspirarão maior confiança se forem mais sustentadas, mais serenas e menos influenciadas pela oportunidade de “confrontar”. O seu papel nunca pode ser o “papel principal”.
Os últimos sinais relativos ao comportamento da nossa economia devem ser prudentemente interpretados, contextualizados e lidos de uma forma isenta de outros propósitos, frequentemente meramente políticos.
Os portugueses, particularmente os que mais estão a sofrer com o desemprego, com a erosão dos seus rendimentos, com a redução das suas reformas, …., exigem respeito, rigor e responsabilidade nesta análise.
Júlio Faceira Guedes
XZ Consultores, SA