Diga à gente, diga à gente, como vai este país…

A propósito do recente falecimento do conhecido Nicolau Breyner as televisões recordaram alguns dos episódios da sua carreira mais marcantes, para o público em geral. Assim, não poderiam faltar as rábulas do Sr. Contente e do Sr. Feliz. Ao rever alguns desses sketches é impressionante como, após cerca de quatro décadas, as questões levantadas se tem eternizado no tempo. Parece que o nosso fado e o do nosso país é vivermos sempre em crise, mas porquê?

Não faltam evidências, testemunhos, entre outros, que demonstram que somos um povo com capacidade produtiva, responsável e, como se demonstra da mais recente vaga de emigração, altamente desejados e qualificados. Temos também em Portugal empresas pertencentes aos grandes grupos mundiais em que, as unidades nacionais são das mais eficientes, nomeadamente, em termos de inovação e desenvolvimento.

Esta situação não é conjuntural, mas estrutural, como demonstram as rábulas referidas com já quase 4 décadas.

Nos últimos anos temos sido “bombardeados” com termos tais como: globalização, mercado livre, eficiência, produtividade, redução de custos, melhoria do serviço prestado, aumento de qualidade, entre outros, mas na realidade, o que é que significam na prática? Significam que, em ambiente de livre concorrência, como o que vivemos, apenas os mais eficientes, com menores custos poderão sobreviver.

A grande transformação que o mercado livre induziu foi que, a chamada equação do lucro mudou radicalmente, ou seja, as organizações, de forma geral, perderam a capacidade de fixarem os preços sendo estes definidos pelo “mercado”.

A formulação tradicional do preço P = L + C, onde P é o preço de venda, L o lucro e C o custo já não tem qualquer aplicação. Algebricamente, nada de errado existe para a equação de hoje, mas de facto a diferença é crítica:

L = P - C

A equação acima demonstra que o fator custo de produção é hoje absolutamente fundamental para o sucesso. Resulta do exposto que, se as organizações não conseguem definir os preços de venda, se não existem mecanismos monetários que permitam uma desvalorização da moeda, então a única ferramenta disponível é atuar, sobre os custos, ou seja minimizá-los.

Uma questão se impõe: porque será que, tendo nós trabalhadores competentes, quadros cobiçados internacionalmente, gestores de topo mundial, empresas de excelência no nosso território, muitas delas com gestão de topo portuguesa, somos tradicionalmente pouco competitivos?

Na realidade é que fomos “educados” em paradigmas errados. Desde que Portugal aderiu à Europa de facto registou um avanço significativo. Parte desse avanço teve a ver com a modernização de meios de produção, por via das inúmeras ajudas económicas que vieram da Europa.

Verifica-se agora que isso não chega. Muito pouco se investiu no profundo estudo dos processos produtivos e na melhoria da Gestão.

 É neste contexto que a Gestão Lean se insere.

Do que estamos a falar? Estamos a falar de uma “nova” filosofia de gestão que nos ajuda a ver para além das atividades do dia-a-dia e conseguir “ver” que a esmagadora maioria delas não acrescentam qualquer VALOR logo, são inúteis.

Paradoxalmente o futuro para as PME’s nunca se mostrou tão promissor como agora. De facto, a partir de 2008, por via da crise mundial, dá-se uma grande viragem na forma de encarar a cadeia de abastecimentos. Toda a cadeia tornou-se muito mais curta, sem stocks e com um profundo alinhamento com a procura. Este simples facto, implica que se exige hoje às organizações uma radical mudança de paradigma no sentido de se trabalhar sem stocks, em séries cada vez mais pequenas e com tempos de resposta muito mais curtos. Estes desafios, até pela distância geográfica, o Oriente não consegue responder (ainda). As organizações, de forma genérica, que consigam enfrentar e vencer estas apostas tem um futuro promissor.

Uma pergunta se impõe: porque será que é tão difícil perceber e assumir os desafios descritos atrás? A resposta a esta questão não é fácil porque tem a ver com uma multiplicidade complexa de fatores, tais como: o “medo” de experimentar novas soluções, a não existência, na esmagadora maioria das empresas, de métricas de desempenho, a dificuldade das empresas se abrirem à sua envolvente, a insegurança que o atual modo de funcionamento do mercado induz, etc.

Não pode ser escamoteado também que, o passado de muitas, talvez a maioria das PME’s, assenta em empresas criadas a partir de outras ou empresas do tipo familiar, em que as lideranças têm muita dificuldade em reconhecer novas realidades para além daquelas que construíram ou daquelas em que foram educadas. De facto, até determinada fase, a gestão tradicional deu frutos e muitas empresas cresceram e se desenvolveram significativamente. O que é preciso perceber é que, apesar de eventualmente se ter feito tudo bem dentro das organizações, o que realmente mudou foi a sua envolvência.

A compreensão da realidade descrita, bem como uma certa humildade para a entender e assumir, poderão fazer a diferença entre um inevitável definhamento das empresas ou o seu crescimento saudável e promissor.

Eduardo Campos Ferreira
Departamento Lean Management
- XZ Consultores, SA

 

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