Internacionalização Empresarial - a Importância das Redes Relacionais e do Conhecimento

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O tema da internacionalização das empresas assume nos nossos dias uma importância cada vez maior, seja pelo facto de as exportações a nível mundial estarem a crescer a uma taxa superior à produção nacional, seja ainda pelos fluxos de IDPE (Investimento Direto de Portugal no Estrangeiro) apresentarem taxas de crescimento ainda maiores às da exportação (AICEP, 2013)[1]. Segundo dados do Banco de Portugal (2013) no período de 1996 a 2012 as Exportações Portuguesas de bens, a preços correntes cresceram cerca de 134.5% (de 19427.1 M€ para 45562.8 M€), e as de serviços tiveram um aumento de 211.2% no mesmo período (de 5936.7 M€ para 18475.4 M€). Já o PIB (Produto Interno Bruto), também a preços correntes, teve um aumento de apenas 77.3% nesse mesmo período de tempo (de 93216.5 M€ para 165246.8 M€), sendo que desde 2010 até dezembro de 2012, teve até um decréscimo de 4.,4%[2].

Toda esta crescente intensificação da atividade internacional das empresas apela a novas regras e novas formas de negócio.

Hoje em dia é exigido às empresas um contínuo processo de inovação e de reestruturação das suas operações para que lhes seja possível responder aos requisitos da concorrência nacional mas também, cada vez mais, da internacional. A internacionalização passou a ser mais do que uma questão de opção, uma questão de sobrevivência.

O desenvolvimento do mundo dos negócios tem vindo a romper todas as fronteiras, sendo a crescente internacionalização das empresas um dado adquirido independentemente da sua dimensão, idade, experiência internacional ou doméstica, contrariando um pouco as tradicionais teorias da Internacionalização.

As empresas têm de encontrar novas formas para desenvolver vantagens competitivas que passam por procurar e adquirir novas competências, recursos e capacidades. O conhecimento é um importante recurso estratégico devido ao seu impacto na capacidade competitiva da empresa. Em muitos casos as empresas podem ganhar acesso a esses recursos, incluindo conhecimentos específicos de mercado (maket-specific knowledge), através de formas alternativas de gestão, tais como as redes industriais. A crescente importância da cooperação na internacionalização das empresas implica a necessidade de uma nova abordagem – baseada nas redes industriais – que parte do princípio que o processo de internacionalização de uma empresa não pode ser controlado por um único ator. De facto, as empresas parecem ganhar competitividade internacional ao integrarem redes industriais pois, integrar uma rede pode facilitar o acesso a recursos específicos de mercado, nomeadamente ao conhecimento, que uma empresa isolada não poderia ter de outra forma.

Evidência empírica recente oferece pontos de vista importantes sobre a internacionalização de novos negócios, mostrando que as empresas mais jovens são capazes de compensar sua limitada aprendizagem experiencial ao nível da empresa com a aprendizagem através de experiências individuais anteriores da equipa de gestão de topo (aprendizagem congénita) e através de relações inter-organizacionais (aprendizagem vicária).

Cada vez mais os empresários valorizam os seus recursos, como “ativo” fundamental na hora de internacionalizar.

Provou-se num estudo empírico de 2014 sobre internacionalização empresarial que as empresas com menor grau de Maturidade Internacional (internacionalização precoce) são as que atribuem maior importância à Experiência Internacional e às Competências Específicas dos Colaboradores, como fatores indutores da internacionalização das suas empresas. Por sua vez, as PME e as empresas com menor grau de Experiência Internacional são as que maior importância atribuem à Propensão Empreendedora e para Assumir Riscos por parte dos Colaboradores e da Direção. E, independentemente do seu grau de Maturidade Internacional, da sua Dimensão ou Idade, as empresas atribuem grande importância à Rede de Contactos no País de Acolhimento (50% considera-a “extremamente importante”).

Não há impossíveis, como até antes se fazia crer, para as empresas mais pequenas nem para as mais jovens e inexperientes! Há com certeza barreiras a ultrapassar nomeadamente na mentalidade dos empresários portugueses, para aceitarem esta tendência crescente de entrada em novos mercados através de estratégias colaborativas. Torna-se imperativo nesta economia global uma crescente consciencialização da necessidade de apostar na “desintegração”, ou seja, na especialização da empresa nas suas atividades nucleares (“core business”), valorizando e aproveitando as capacidades dos recursos de que dispõem especialmente dos seus colaboradores. Será inevitável, mais ainda para as empresas mais pequenas e inexperientes, não cair na tentação do controlo total da cadeia de valor, mas sim procurar acordos específicos com outros intervenientes, fazendo alianças, integrando redes ou desenvolvendo outras formas de cooperação.

 Carla Azevedo Lobo, Doutorada em Gestão

Docente e investigadora na Universidade Portucalense Infante D. Henrique



[1] No período de 1996-2012, segundo a Base de Dados Estatística da AICEP, o IDPE teve um aumento de cerca de 1549% (de 3275 M€ para 54010 M€).

[2] Dados de julho de 2013 do Banco de Portugal apresentam ainda previsões para a TVH (taxa de variação homóloga) real do PIB para 2013 de -2.0%, e 4.7% para as Exportações, e para 2014 de 0.3% para o PIB e 5.5% para as Exportações.

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